Dr. Alexandre Jácome | Painel Genético

Painel Genético

O câncer sempre é uma doença genética, mas não necessariamente hereditária. É muito importante esta diferenciação. Na grande maioria dos casos, o câncer é decorrente do acúmulo de alterações genéticas que sofremos ao longo da vida. Por exemplo, sabemos que as substâncias do tabaco podem causar alterações genéticas nas áreas em que elas agem, como o pulmão, assim como a radiação ultravioleta do sol pode causar alterações nos genes da pele, resultando no câncer de pulmão e no câncer de pele, respectivamente. Esses casos são chamados esporádicos, e geralmente surgem após os 50 anos de idade. Por esta razão o câncer é uma doença rara em crianças e adolescentes.

Em uma minoria dos casos, estimados em cerca de 5% dos pacientes, o gene defeituoso que predispõe o indivíduo a desenvolver o câncer foi herdado de um dos pais, ou até mesmo de ambos. Essas pessoas tendem a apresentar um acúmulo da doença em diferentes gerações da família, e tendem a desenvolvê-la em idades mais precoces, muitas vezes antes dos 35 anos de idade.

As alterações genéticas herdadas são chamadas de germinativas, e aquelas adquiridas são chamadas de somáticas. As germinativas podem ser pesquisadas em qualquer célula normal do organismo, como aquelas presentes no sangue ou saliva. As somáticas são pesquisadas em material genético derivado das células malignas, presentes no próprio tumor (biópsia tecidual) ou em material circulante do tumor na corrente sanguínea (biópsia líquida).

A grande revolução recente da Oncologia foi o desenvolvimento de drogas direcionadas para alterações genéticas específicas dos tumores. Para identificá-las, é necessário, portanto, a pesquisa de alterações somáticas, seja no próprio tumor (biópsia tecidual) ou no sangue (biópsia líquida). Uma vez identificada determinada alteração genética para a qual haja uma droga específica, e, principalmente, se há estudos clínicos que demonstrem que aquela droga pode ser eficaz naquele contexto clínico, pode-se discutir a introdução de determinada droga. Portanto, foram desenvolvidos testes para a identificação de alterações genéticas tumorais para a correta seleção terapêutica. Estes testes começaram com a pesquisa de poucos genes, mas hoje há disponibilidade de painéis com dezenas a centenas de genes pesquisados. Esta revolução na Oncologia está em andamento, de forma que a vasta maioria das alterações genéticas associadas ao câncer não são passíveis de tratamento ainda. É muito importante que haja critério e cautela na solicitação e interpretação destes painéis para que tanto o paciente como o médico não cedam aos apelos comerciais. Em instituições acadêmicas nos Estados Unidos e Europa, tais painéis são úteis para a elegibilidade de pacientes para estudos clínicos, principalmente para estudos chamados de fase I. Na indisponibilidade destes estudos, a solicitação de painéis genéticos somáticos pode representar o uso inadequado de recursos.

Já os painéis genéticos germinativos ou hereditários podem ser solicitados quando há suspeita de síndromes predisponentes ao câncer, geralmente investigadas em pessoas com diagnóstico de câncer em idades prematuras, ou em casos em que há inúmeras pessoas acometidas na família. De qualquer maneira, é fundamental que o paciente seja avaliado por Médico Geneticista antes da solicitação destes testes, quando será discutida a necessidade dos exames.

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